sábado, 21 de agosto de 2010

Eu não preciso mais de você

Júlia chegou em casa cabisbaixa. A bolsa pesava em seu ombro enquanto tinha em mãos vários livros da universidade. No ano anterior havia conseguido o feito de entrar no curso que queria numa instituição de respeito. Era uma jovem com menos de 20 anos, sorriso fácil e feições finas. Pelos padrões estipulados da sociedade ela era considerada bonita.

Tinha tudo o que uma pessoa de sua idade poderia querer: uma família amorosa, beleza e um futuro promissor.

Naquele dia, contudo, Júlia não se sentia feliz. Naquele dia ela havia terminado o seu namoro.

Ela ainda estava na escola quando o viu pela primeira vez. Eles eram compatíveis e Júlia, por ser uma menina de gostos excêntricos, se sentiu atraída. Ele não era o rapaz mais bonito do mundo, mas tinha uma conversa encantadora, uma inteligência vivaz e o dom de fazê-la rir com os gestos mais simples.

Logo de início se tornaram amigos e, como tinha de ser, a amizade evoluiu. Ele a pediu em namoro e ela aceitou prontamente. Eles dividiram seu tempo, suas alegrias, suas frustrações e o relacionamento que começou como um namoro entre adolescentes estava se tornando mais denso com o passar dos meses.

Naquele dia específico eles completariam um ano.

Júlia estava perdida em pensamentos. Lembrava-se de muita coisa e seu coração se apertava. Largou a bolsa e os livros em cima da mesa de seu quarto e ficou pensando no que a tinha feito terminar com o seu atual ex-namorado.

Começou a relembrar, então, os últimos meses que antecederam o término, na cobrança que um exercia sobre o outro e no peso que começou a sentir por estar namorando. Aquilo que havia feito ela exultar de felicidade antes a estava fazendo sentir uma tristeza sem tamanho. Eles brigavam sempre e não conseguiam mais dialogar.

Aquele doce romance que eles haviam tido agora era um relacionamento adulto e ela não sabia lidar com isso. Ela se assustava pensando nisso...

Júlia parou em frente ao espelho. As palavras estavam presas em sua garganta num grito abafado e os olhos inchados pelo choro. Seus dedos passeavam pela superfície fria a sua frente como se pudesse tocar a si mesma. Como se pudesse se consolar de alguma forma com aquele toque débil.

Ela havia aprendido de uma forma cruel que os sentimentos eram complicados.

Ela havia se tornado mulher.

Júlia deu um meio sorriso com a constatação e limpou as lágrimas com as costas das mãos. Foi então que ela vociferou baixinho ainda se olhando fixamente no espelho:

- Eu não preciso mais de você.